Um grupo de pessoas que vive, trabalha e estuda em Setúbal decidiu que irá encontrar-se todas as semanas na União Setubalense para cantar contra o cinzento dos dias e a hegemonia cultural.

Contra o monocultivo da música global, queremos aprender as canções que as nossas mães e avós usaram para embalar as crianças, cultivar a terra e desafiar os poderes dominantes. Já não somos ceifeiras de gadanhas em punho, mas queremos descobrir as nossas culturas ancestrais e tomá-las em mãos como enxada, para cuidar os jardins do presente e criar as nossas próprias canções.
O capitalismo divide pobres e ricos e separa as trabalhadoras umas das outras para que não se possam revoltar. Convenceu-nos de que há artistas e não-artistas, cantoras e não-cantoras. Nós não acreditamos nisso. Somos contra as fronteiras e sabemos que a afinação é um conceito pequeno-burguês. Desde que a humanidade se deixou seduzir pelo engano do trabalho sempre o canto se entreteceu na jorna para aligeirar as canseiras e sempre o fim da jorna foi celebrado cantando e dançando. Até o fado começou do lado do povo.
Fomos convencidos também de que o "eu" vem primeiro, de que estamos sós no mundo e cada uma é responsável pelo seu sucesso e a sua pobreza. Contra o individualismo hegemónico que nos ilude e entorpece, nós queremos usar o fio da voz para coser um pouco mais as nossas existências. Queremos ser um grupo de pessoas de várias idades, géneros, cores e profissões, que decidiu cantar contra a pobreza quotidiana.
Há espaço de sobra para as vozes tímidas, as vozes de bagaço e as vozes líricas inesperadas. Apareçam sem medo.
Todas as terças-feiras, das 19h30 às 21h, na União Setubalense (atividade aberta aos sócios).